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Itália abre portas para descendentes — país enfrenta falta histórica de trabalhadores e recorre à imigração

Redação CPlay/
06/12/2025, 18h55
/
4 min
imagem: gerada por IA
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A Itália deu um passo raro — e altamente simbólico — ao anunciar que descendentes de italianos de países como Brasil, Argentina e Venezuela poderão trabalhar no país sem depender das cotas anuais tradicionais. Mas, se o gesto parece afetivo, a motivação é bem pragmática: o país simplesmente não tem trabalhadores suficientes.

A decisão surge em um momento em que a Itália enfrenta um dos maiores desafios demográficos da Europa: população em queda, baixa natalidade e setores inteiros a funcionar com mão de obra insuficiente. Resultado? O Governo decidiu recorrer a quem, no passado, partiu — ou a seus descendentes — para preencher vagas que já não encontram quem aceite ocupar.

 A crise: envelhecimento rápido e vagas que sobram

A situação demográfica italiana já é considerada crítica. A Itália tem uma das populações mais idosas do mundo e, segundo o próprio governo, faltam trabalhadores em setores essenciais, como:

  • Agricultura

  • Turismo e hotelaria

  • Saúde e cuidados

  • Construção civil

  • Serviços gerais

  • Indústria leve

O problema não é novo, mas atingiu um ponto de urgência. Empresas relatam que não conseguem contratar, municípios do interior estão a perder habitantes rapidamente e serviços básicos começam a ser afetados.

Por isso, a medida não é apenas um convite simpático aos descendentes: é uma estratégia de sobrevivência económica.

A grande contradição: Meloni pregava endurecimento migratório… agora precisa abrir as portas

O novo decreto também expõe uma contradição difícil de ignorar: Giorgia Meloni chegou ao poder com um discurso firme contra imigração, prometendo fronteiras mais rígidas, controle absoluto de entradas e políticas duras contra estrangeiros sem documentação. No entanto, confrontado com a realidade brutal do mercado de trabalho — e com uma população que envelhece rápido demais — o governo viu-se forçado a fazer exatamente o oposto: abrir a Itália para trabalhadores estrangeiros, ainda que descendentes. Na prática, a Itália descobriu que ideologia não colhe tomate, não cuida de idosos e não mantém hotéis e fábricas a funcionar. Diante do risco económico real, Meloni cede ao pragmatismo: quando faltam trabalhadores, fechar portas deixa de ser opção.

 O que muda na prática — e para quem muda

O novo decreto publicado em novembro de 2025 permite que descendentes de italianos de sete países — incluindo o Brasil — obtenham visto de trabalho fora do sistema de cotas (Decreto Flussi).

Ou seja:

  • Não é preciso disputar vagas limitadas por quota anual.

  • Basta comprovar a ascendência italiana.

  • E apresentar um contrato de trabalho válido na Itália.

A lógica é simples: se há milhões de descendentes espalhados pelo mundo, por que não aproveitar esse potencial humano para reequilibrar o país?

O movimento também reconhece a enorme diáspora italiana — e busca reconectar-se com ela num momento em que a Itália já não consegue manter sua força produtiva com a população atual.

Para o descendente: oportunidade real, mas exige preparação

A nova porta aberta não significa entrada automática. É preciso:

  • Certidões que comprovem a linha familiar até o antepassado italiano;

  • Um contrato de trabalho com empresa italiana;

  • Emissão do visto e posterior permesso di soggiorno;

  • Adaptação cultural e linguística.

Ou seja: é oportunidade, mas não “atalho”. A diferença é que agora o caminho existe, sem a barreira das cotas.

A grande ironia histórica: quem um dia saiu, agora é chamado de volta

Do final do século XIX até meados do século XX, milhões de italianos emigraram para o Brasil, Argentina, EUA e outros países fugindo de crises económicas.

Agora, mais de 100 anos depois, a história se inverte:
é a Itália que precisa daqueles que partiram — ou melhor, dos seus descendentes.

É uma espécie de “ciclo completo” da migração.

Mas desta vez, não por fome ou desespero — e sim por uma necessidade moderna: não há quem trabalhe.

Uma decisão pragmática com impacto emocional

A medida tem um peso emocional óbvio para quem carrega um sobrenome italiano. Mas, no fundo, é uma política estatal altamente estratégica:
✓ recuperar população jovem
✓ fortalecer setores que não encontram mão de obra
✓ estimular a economia interna
✓ reduzir o risco de colapso demográfico

Para milhões de descendentes, é uma oportunidade de recomeço.
Para a Itália, é uma tentativa de não parar.

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